sai de mim e sê essa alteridade que em mim habitava. Vive no mundo. Meu verbo, faze-te carne. Assume um corpo. Sê um outro eu. Cria movimento, energiza espaço. Faze-te ser sem mim. Estás agora aqui: corpo significante não mais eu. Descola-te e te desloca. Acolhe-te noutro local.
E se eu te amo? e se souberes, tu ainda me queres? tu, sabendo me teres, fugirás de mim? e se já me dás como paisagem conquistada?
Eu quero olhar o teu corpo. Olhar o teu olhar. Acalentar-me com tua voz. Ouvir todas as histórias que te traçaram o ser. A minha sede, a minha fome, o meu desejo de viver repousam no sempre.
E se tu te cansas de mim? Cansaste de mim mistério? Me dás por desvendado. Eu te sigo. Eu te desenho com meu desejo. E se tu te viciaste na novidade? artefatos produtos de novos a usados. Rolam no deslize do abismo as tuas mãos prendem e soltam outros eus.
Ainda hás de querer minha companhia?
E se eu fosse um universo? uma galáxia? um planeta? e se fosses esse a desbravar um mundo sempre novo, a cada dia novo?
Acrescento um punhado nesse mapa em que te traço a cada novo amanhecer. Se eu te amo? E se meu amor perde esse traçado a cada dia. Apaga-o. Refaço-o. Mas te perdes. Uma criança abandona o brinquedo, entediada. Certamente te equivocas ao me equacionares em velhas fórmulas.
eu te amo, mas tu me enquadrilateras nessa rotina. E se eu fosse desconhecido a cada dia pra mim mesmo? e se o tempo e o espaço se dilatassem e confundissem o que tiveste ontem, não sendo mais eu o mesmo que possuíste? Olha pra mim, e me diz se te esvais num só período. Olha pra mim e me diz se te tornas previsivelmente emoldurado.
Se te proteges e te perdoas e te buscas incessantemente, refazendo o teu desejo nesse percurso que se borra a cada passo do presente. Por que não fazes de mim essa viagem incabável?
Não me tens. Não me resolves. Não me possuis. Jamais. E esse mesmo que faz de mim cristais, não é o mesmo que em ti se distrai e se destrói para fazer-se sempre novo? Se me amas, jamais me verás o mesmo verão.
há algum lugar onde se possa descartar o descartável que marioneta esse querer?
Manaus, setembro de 2011.
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