Real e real-idade

Prolegômenos de uma Teoria Quântica do Discurso


O Real é uma rede material  de sistemas ou estruturas “falhas” que se superpõem, que se relacionam contraditoriamente, e que não se fecham. Elas se inscrevem como Norma, como Lei, como o Impossível de controle, como Barreira, como Silêncio, como Constituição, como Filosofia, como Palavra, como Religião, ou, pra alguns, como a Matrix ou a malha fina... É evidente. Por isso não é. Matéria e Energia. Onda e partícula.

Essas estruturas acontecem no tempo-espaço. E a cada acontecimento o equívoco se faz. A historização dessas estruturas materiais se dá sempre no equívoco, na falha. Esse é seu movimento. Os sujeitos, sua consciência, sua percepção, suas produções materiais, enfim, as forças produtivas e as relações de produção se constituem assim.

O já-lá, o eterno aberto, o eterno incompleto, o eterno inapreensível em sua totalidade, o eterno disperso, o universal espaço-temporalizável, vagamente enunciável, falhamente, equivocadamente enunciável.

Nós somos o sentido. O sujeito é o acontecimento, a produção do sujeito é o acontecimento. O sentido é sempre a historização do Real e sendo assim, é sempre incompleto, equivocada, movediço, metafórica, é-foi-será sempre um non-sens. O acontecimento se individualiza e se homogeneiza.

O Real é e pode ser inapreensível, mas é e pode ser referível, enunciável.

A história é o acontecimento do Real. A arte é um acontecimento do real. O sentido é o acontecimento do real, a análise, acontecimento, tenta dar conta do acontecimento do real. Profetizações. Imagem, som, língua, fala, gesto, texto, audio, visual. Des-cursos.

Nomeamos o Real de Inconsciente, de Ideologia, de Desejo, de Vida, de Real.  Qual é o estado do Real? Que direções se repetem no acontecimento do Real? como os homens (re-)produzem esses direcionamentos? O político se inscreve no simbólico. O simbólico interfere no político.

A análise procura dar conta desse estado das coisas, das informações possíveis que se fazem conhecer em um dado momento e materialização desse sistema, como cada materialidade se torna ou tenta se tornar um Estado Fundamental.

Dominar o eEstado para poder revolucioná-lo eou sustentá-lo, eis o conhecimento possível. 

Quando olhamos, quando fazemos o gesto de interpretação do Real, quando o apreendemos na materialidade de um discurso, é sempre-já um gesto deslizante, equivocado, aberto, incompleto, metafórico e cristalizado.

Fazer o gesto de interpretação é estar na  Real-idade. De que sorte são essas inter-ações? como as interpretações e os desejos se relacionam? em contradição, desigualdade, subordinação, alianças, apagamentos, de-negações?

O que faz com quem um dos se torne o Um? o que faz com que uma das intenções se torne A Intenção?
Como o Desejo se constitui em desejos? quais as regras de funcionamento que eles assumem nesse momento da história?

Quais os estados possíveis que se relacionam com esse ESTADO que se institui como FuNndAmentaL?

É preciso então apenas cruzar os braços e ver o Real passar? impAssível.

A injunção dos sentidos é essa: tentar mover o Real, tentar fechá-lo, tentar curá-lo, tentar completá-lo, tentar controlá-lo, apreendê-lo para tentar espalhá-lo: (re-)produzir a vida. 


Revolucionar e estabilizar. Nenhum gesto de interpretação será o último, como nenhum foi o primeiro. Acontece e passa. O Real nunca faz um. Precisamos fazê-lo nós. Nosso. E depois continuar fazendo novos nós. Processo sem fim que não se assujeita. É impossível que seja tão evidente. É evidente que é impossível. Bem-vindo à Vida. Até logo.

Quantizações.

Fazendo o Um