e-mail enviado à Comissão de Exames de Seleção da UFAm (COMVEST), no dia 22 de setembro de 2011, às 2h18min.
prezados senhores da COMVEST,
Sou professor da UFAm, do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa. Venho por meio deste, expressar uma preocupação de longa data com o programa de Língua Portuguesa, Redação e Literatura Brasileira da nossa comissão de exames de seleção.
Em 2006 procurei o então presidente da COMVEST para falar sobre a perspectiva um tanto ultrapassada de língua portuguesa, literatura brasileira, de redação e de aprendizagem nos exames de seleção desta conceituada comissão.
A preparação para o ingresso numa Universidade Federal acaba por formatar a grade curricular de escolas e cursinhos. Dada essa importância dos procedimentos adotados pela COMVEST na formatação e definição dos programas e dos planos de cursos implementados nas escolas de educação básica e nos cursinhos, gostaria de ressaltar a responsabilidade dessa comissão para a transformação das estruturas educacionais no nosso Estado no que tange à área de linguagem, códigos e suas tecnologias (que abarca as referidas disciplinas). Se a COMVEST não mudar seus "tópicos para estudo" no Estado do Amazonas, também essa grade não se alterará, como precisamos e queremos. Explico-me...
Já de algum tempo, linguístas, pedagogos, filólogos, psicólogos da aprendizagem, professores e pesquisadores da minha área de atuação, pelo progresso e desenvolvimento científico já alcançados, contribuíram para a mudança no modo como se ensina reflexão linguageira, produção textual e leitura em língua materna e estrangeira.
Em função disso, o Ministério da Educação e o INEP promoveram no país, nos últimos 15 anos, procedimentos substanciais que colocam a educação na área de linguagem, área a que eu me atenho, num patamar dos mais desenvolvidos no planeta. Esses procedimentos estão expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas Orientações Curriculares, na Matriz Curricular do ENEM e do SAEB e, internacionalmente, na matriz curricular do PISA, que vão abaixo anexados para verificação dos senhores.
Esses documentos enfatizam a análise dos "recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas)", segundo os PCN de ensino médio. Assim, "o espaço da Língua Portuguesa na escola é garantir o uso ético e estético da linguagem verbal; fazer compreender que pela e na linguagem é possível transformar/reiterar o social, o cultural, o pessoal; aceitar a complexidade humana, o respeito pelas falas, como parte das vozes possíveis e necessárias para o desenvolvimento humano, mesmo que, no jogo comunicativo, haja avanços/retrocessos próprios dos usos da linguagem; enfim, fazer o aluno se compreender como um texto em diálogo constante com outros textos" (ibidem).
É uma perspectiva dialógica, interacionista, argumentativa e discursiva de língua e de linguagem, baseada no texto, e nos usos sociais da língua. Não mais uma ultrapassada, autoritária e conservadora perspectiva de língua divorciada do contexto social vivido. O entendimento da nomenclatura gramatical deixa de ser o eixo principal, em que descrição e norma se confundem na análise de frases, deslocadas de seu uso, de sua função e de um texto.
Mudar essa perspectiva é, dentre outras coisas, contribuir para a formação de estudantes mais críticos, com maior capacidade de domínio dos recursos expressivos e argumentativos da língua e ser coerente com os avanços científicos que promulgamos em nossos cursos de graduação e pós-graduação.
Percebi que já houve uma mudança significativa entre o exame do PSM de 2009 e de 2010. Parabenizo-os por isso. Desejo, entretanto, que essa mudança atinja o programa divulgado pelos senhores no site e finque raízes nas futuras provas dessa comissão.
Grato pela atenção,
Luiz Carlos Martins de Souza
professor do DLLP/ICHL/UFAm e doutorando em Linguística pela UNICAMP
prezados senhores da COMVEST,
Sou professor da UFAm, do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa. Venho por meio deste, expressar uma preocupação de longa data com o programa de Língua Portuguesa, Redação e Literatura Brasileira da nossa comissão de exames de seleção.
Em 2006 procurei o então presidente da COMVEST para falar sobre a perspectiva um tanto ultrapassada de língua portuguesa, literatura brasileira, de redação e de aprendizagem nos exames de seleção desta conceituada comissão.
A preparação para o ingresso numa Universidade Federal acaba por formatar a grade curricular de escolas e cursinhos. Dada essa importância dos procedimentos adotados pela COMVEST na formatação e definição dos programas e dos planos de cursos implementados nas escolas de educação básica e nos cursinhos, gostaria de ressaltar a responsabilidade dessa comissão para a transformação das estruturas educacionais no nosso Estado no que tange à área de linguagem, códigos e suas tecnologias (que abarca as referidas disciplinas). Se a COMVEST não mudar seus "tópicos para estudo" no Estado do Amazonas, também essa grade não se alterará, como precisamos e queremos. Explico-me...
Já de algum tempo, linguístas, pedagogos, filólogos, psicólogos da aprendizagem, professores e pesquisadores da minha área de atuação, pelo progresso e desenvolvimento científico já alcançados, contribuíram para a mudança no modo como se ensina reflexão linguageira, produção textual e leitura em língua materna e estrangeira.
Em função disso, o Ministério da Educação e o INEP promoveram no país, nos últimos 15 anos, procedimentos substanciais que colocam a educação na área de linguagem, área a que eu me atenho, num patamar dos mais desenvolvidos no planeta. Esses procedimentos estão expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas Orientações Curriculares, na Matriz Curricular do ENEM e do SAEB e, internacionalmente, na matriz curricular do PISA, que vão abaixo anexados para verificação dos senhores.
Esses documentos enfatizam a análise dos "recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas)", segundo os PCN de ensino médio. Assim, "o espaço da Língua Portuguesa na escola é garantir o uso ético e estético da linguagem verbal; fazer compreender que pela e na linguagem é possível transformar/reiterar o social, o cultural, o pessoal; aceitar a complexidade humana, o respeito pelas falas, como parte das vozes possíveis e necessárias para o desenvolvimento humano, mesmo que, no jogo comunicativo, haja avanços/retrocessos próprios dos usos da linguagem; enfim, fazer o aluno se compreender como um texto em diálogo constante com outros textos" (ibidem).
É uma perspectiva dialógica, interacionista, argumentativa e discursiva de língua e de linguagem, baseada no texto, e nos usos sociais da língua. Não mais uma ultrapassada, autoritária e conservadora perspectiva de língua divorciada do contexto social vivido. O entendimento da nomenclatura gramatical deixa de ser o eixo principal, em que descrição e norma se confundem na análise de frases, deslocadas de seu uso, de sua função e de um texto.
Mudar essa perspectiva é, dentre outras coisas, contribuir para a formação de estudantes mais críticos, com maior capacidade de domínio dos recursos expressivos e argumentativos da língua e ser coerente com os avanços científicos que promulgamos em nossos cursos de graduação e pós-graduação.
Percebi que já houve uma mudança significativa entre o exame do PSM de 2009 e de 2010. Parabenizo-os por isso. Desejo, entretanto, que essa mudança atinja o programa divulgado pelos senhores no site e finque raízes nas futuras provas dessa comissão.
Grato pela atenção,
Luiz Carlos Martins de Souza
professor do DLLP/ICHL/UFAm e doutorando em Linguística pela UNICAMP
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