sábado, 28 de maio de 2011

O evangelho segundo a hipocrisia: odiamos o pecado, mas amamos o pecador

O universo cristianizado está em polvorosa com uma demanda que não quer se deter: a comunidade LGBT quer ter os mesmos direitos assegurados que os heterossexuais, inclusive de não usufruir desses direitos caso queiram. Mas direitos são para alguns que nascem mais normais que os normais. Deveres são para todos.

Evangélicos e católicos conservadores falam da ordem da criação: Deus fez homem e mulher. O casamento é exclusivo nessa condição. A família só sobrevive se for em um pai e uma mãe, naturalmente nascidos respectivamente masculino e feminino.

A família começou assim: depois de ver todos os outros animais com seu parzinho, o homem-mulher não queria fazer sexo sozinho consigo mesmo, aí deu uma choradinha, achou que Deus pensou em tudo quanto foi animal, mas deixou ele “na mão”. Aí então Deus mudou de idéia: fez este ser hemafrodita cair no sono e tirou metade dele e assim fez uma auxiliadora idônea. Esse é o papel da mulher na ordem da criação. Ossos dos ossos de Adão, carne da carne de Adão, mas agora, fora de Adão. A secretária da agora espécie macha, ex-hemafrodita.

Criou-se a família, os dois casaram, tiveram filhos formidáveis, sem nenhum tipo de problema, que foram se espalhando pelo planeta e formando mais famílias. Até então, a família estava a salvo, mas de repente, começa essa ditadura gay se alastrando no planeta. A família agora está ameaçada.

De onde será que saiu a ditadura gay que veio ameaçar a anteriormente protegida família?

É que os demônios viram que não conseguiram acabar com a família pelo capitalismo, pela má distribuição de renda no planeta, pelas jornadas triplas de trabalho e de ocupações de sobrevivência do pai e da mãe, pelos políticos corruptos, aí, frustrados, resolveram dar um jeito nesse paraíso.

Pai e mãe continuavam a se amar e amar a seus filhos, numa boa, ambos estavam continuamente dedicados ao amor e ao cuidado desses filhos, fazendo-os se tornarem adultos saudáveis. Todos sempre se deram muito bem, mas aí os demônios resolveram se infiltrar na humanidade fazendo brotar gays. Começaram a brotar gays na Grécia, depois em Roma, depois na Europa toda, aí de repente brotaram gays nos EUA e aí, as famílias que faziam seu carnaval pacata e civilizadamente no Brasil, viram brotar gays no carnaval do Rio de Janeiro. E eis que essa praga se espalhou... só ainda não brotou gays nas tribos remotas e selvagens da Amazônia, da África, da Oceania, graças a Deus! Lá, as famílias ainda estão intactas. Pode-se roubar, matar, destruir, enriquecer ilicitamente e corromper, mas não acabe com a minha família.

Por isso, os cristãos precisamos impedir que gays queiram ser protegidos pelas leis e usufruam dos mesmos direitos que os heterossexuais usufruem. Afinal, eles não são da espécie humana macho e fêmea, ex-hemafroditas.

Deus veio, encarnou-se na forma humana, morreu em uma cruz, ressuscitou, porque sabia que um dia iriam querer destruir a família. Por isso, impôs para todos os seus seguidores se casarem, terem filhos, e se protegerem da contaminação abominável dos filhos do diabo, que iriam querer destruir a família.

Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem. Eu conheço uma outra versão que fala também de encarnação. De Um Deus que se fez homem para assumir e povoar os não-lugares. Para fazer dos abomináveis, convidados de honra para um banquete. Que fala de seus seguidores como aqueles que dariam sua vida por amor a todos os humanos, que imitariam a Ele, Jesus Cristo, em Sua vida e em Sua morte, entregando-se completamente para Ele, fazendo-se um com Ele, para experimentarem a Sua ressurreição.

E que isso não era algo possível de se impor para ninguém. Eles não fariam nenhuma imposição moral para nenhum ser humano, somente para si mesmos.

Este Jesus Cristo provou com Sua vida, Sua morte e Sua ressurreição que é imprescindível para seus seguidores se colocar no lugar do outro. É preciso se alterizar. Em vez de se colocar no lugar de Deus, sem Deus, é preciso se colocar no lugar do próximo, do excluído, do rejeitado, do abominável e fazer-se um com ele.

Um de seus seguidores mais famosos e mais mal interpretados disse que o amor é paciente, é benigno, não busca seus próprios interesses, não se ufana, não se ensoberbece, não se ressente do mal, tudo sofre, TUDO suporta, tudo crê.

Talvez seja isso o que quer dizer amar o próximo como a si mesmo. E se não tiver amor, seria o quê? nada..!

Eis a uma diferença de sentido entre ser da bancada evangélica e o verdadeiro Evangelho: Evangelho não se impõe. Odeie o pecado em você mesmo, e dentro de sua igreja. Deixem os gays em paz! Se você não os quer amar, lavar os seus pés e os servir, deixem os gays buscarem a sua paz. Não seja pedra de tropeço para o Evangelho.

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