domingo, 20 de junho de 2010

O Futuro da Interpretação e o devir na análise

“Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...”, Lulu Santos



Leite interpreta o futuro da interpretação segundo o último Lacan:

"Opondo-se a isso, a interpretação, tal como está formulada no último período do ensino de Lacan, não seria mais concebida como uma mensagem a ser decifrada, mas como um ato que incidiria no gozo produzido pelo ciframento. Neste novo modelo da interpretação, a era chamada 'pós-interpretativa' o analista não se orienta exclusivamente pelo sentido do sintoma, mas pelo efeito da incidência do Real no significante, através do que Lacan chamou de Sinthome.
A intervenção do analista não seria apenas o estabelecimento de um novo sentido, mas apontaria uma atualização de seu suporte material, chamado por Lacan de Letra. Daí ele ter dito que a prática da Psicanálise é uma prática de leitura, que se refere à escrita que constitui o inconsciente.
Esta nova concepção de interpretação decorre do fato de o significante ser condicionado pela Letra, que seria seu suporte material. A proposta de um suporte material para o significante está presente no ensino de Lacan desde seu texto 'Instância da Letra no inconsciente, ou a razão depois de Freud', de 1957. Proposta, atualizada e modificada através dos impasses que a finalização de uma análise impôs aos analistas, visto que os limites do Simbólico deparam-se com a infinitude da interpretação e a insuperabilidade da castração."


    Onde está o Isso, temos que fazer intervir o nós.  A interpretação é fazer o nós, fazer o Um temporário que será refeito, desfeito por cada gesto que o Eterno trará à-tona na real-idade, no tempo-espaço. Se o gozo não incide na interpretação, ela não se institui.

É preciso suporte para o que virá a ser pensado. 

O significante não é apenas condicionado pela Letra. Ele é matéria e energia e um terceiro excluído que é o Real, o funcionamento da Ideologia e do Inconsciente, que aí se inscreve entre os significantes, fazendo a ilusão do Um. Essa escrita é sempre constituída pelo Inconsciente. A forma material é esse Um temporário que o Real fez surgir, fez se individualizar como ilusão, e que também fará se homogeneizar, dando lugar para outras formas materiais, fazendo com que toda forma material instituída, se torne instituínte, entre na memória, como parte da rede “furada”, como pressuposto, como o pré-construído que precisará ser costurado, se reconstruído. 
Entre o passado e o futuro, o Eterno Presente. 
O que move o acontecimento é exatamente esse lugar não esperado, não observado, não enunciado. O analista precisa se permitir estar no entremeio: não na realidade, não no Real, mas na delicadeza do gesto que separa os dois e que faz intervir na realidade a beleza do Real e que aponta para a realidade que onde não está o estado fundamental, aí está o Real: esse sim é o sentido verdeiro, no Non-Sens, no Eu Sou, no Insujeitável que se assujeita onde ninguém percebe, onde ninguém interpreta a não ser os poetas, os loucos, os profetas, os excluídos e aqueles que conseguem fazer dos Nós, o Um.

A interpretante precisa também assumir seu gozo no decifrar o ciframento.
o Mistério é pra ser contemplado, admirado, de-cantado, mas jamais completamente apreendido. Ele sempre mudará de lugar. Processo com sujeitos sem fins. O sentido dominante por hora jamais dominará para sempre, embora seja essa sua injunção.

1 comentário:

  1. Volto com tempo pra devorar tua escrita, sinto que aqui tem um tesouro em forma de palavras escritas. Adoro!


    Bjos de luz!

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