terça-feira, 26 de janeiro de 2010

de Deleuze, Cinema, Linguagem e Deus presente

estou lendo Deleuze pra entender a especificidade da imagem em relação à linguagem verbal.

Pra ler Deleuze (Cinema I e II), preciso entender Bergson.

Inevitável pensar que a palavra é morta ou viva. Que ela energiza ou ela não ressoa, não faz sentido. E me ancoro na fala de políticos e pregadores pra escavar esse lugar. Por quê alguns falam e não envolvem, não eletrizam, não emanam vida como outros fazem? e como será que Hitler conseguiu isso? que espírito equivocado provocou essa falsa emanação de vida que ressuscita e faz dançar o corpo ancestral e envelhecido dos signos? Estudando a linguagem, encontro Deus.

Aqui vai uma síntese de um artigo que sintetiza o pensamento do Deleuze sobre cinema. É do Claudio da Costa Breve apresentação da teoria cinematográfica de Deleuze: A constituição da nova imagem, página 129. Revista Cinemais, no. 5

Deleuze quer pensar a irredutibilidade e a não determinacao da imagem pela linguagem verbal. Pra isso ele divide a história da imagem cinematográfica em dois grupos que recebem o título dos dois livros sobre o assunto: Cinema I, Imagem-movimento (http://www.scribd.com/doc/6296652/Giles-Deleuze-Cinema-a-ImagemMovimento) e Cinema II, Imagem-tempo. Dessas duas categorizações, a partir da leitura de Bergson, ele elabora as consequencias.

percepção prolongada em ação, pensado ao nivel do real, cinema da imagem-ação x percepção do tempo e pensamento.

Imagem-movimento x Imagem-tempo

cinema do agente x Cinema do vidente

a percepção do protagonista no neo-realismo se relaciona com o pensamento e o tempo.

SITUAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA x SITUAÇÃO ÓTICA E SONORA PURA

percepcao natural, tempo infinitamente variavel, presente infinitamente contraido, tempo como ideal de saber, totalidade harmoniosa; o tempo resulta do movimento; montagem compoe imagens-movimento num todo, que escapa; imagem indireta da duracao; as falsas e as continuidades verdadeiras sao ato do conjunto; "o plano do espirito (o Todo, o Tempo) fica sempre subjugado ao movimento dos corpos e `a mediacao da montagem" (p.137)

x

o que eh, o imponderavel, temporalidade virtual e direta, ruptura infinita aberta no movimento, vazio entre excitacao e resposta , o movimento resulta do tempo; montagem=mostragem


Bergson: a matéria é o conjunto das imagens em si, o universo do movimento em variação infinita sem centro de referência. O ser vivo é o centro de ancoragem do movimento, é o intervalo no fluxo do contínuo do movimento

a coisa e sua imagem percebida são ambas percepção, são imagens

1º regime: imagens variam para si mesmas, agindo umas sobre as outras em todas as suas partes. "percepção absoluta e em si, lugar do movimento acentrado e sem disciplina", Vertov
2º regime: todas as imagens variam para uma única imagem. "percepção referida ao intervalo ( o ser vivo? O CÉREBRO?) como centro de referência, de organização e ordenação do movimento aberrante da matéria. REGIME SENSÓRIO-MOTOR. PROLONGAMENTO DA PERCEPÇÃO NUM DETERMINADO MOVIMENTO. John Ford e King Vidor, cinema realista, imagem-ação, cinema imagem-movimento como variação relativa a um intervalo

matéria, composto de 3 imagens básicas:

  • percepção: a coisa, aquilo q o personagem vê
  • afecçcão: intervalo, cérebro, qualidade ou sensação da coisa, sensações do personagem em relação ao que vê; cérebro: intervalo entre o movimento recebido (percepção da coisa) e a reação ao movimento
  • ação: reação frente à coisa; reação do personagem que transforma a situação inicial

cinema : imagem-movimento. 2 eixos: divide o todo, a duracao entre os objetos do conjunto e ao mesmo tempo, reune os objetos num todo

1. diferenciação do movimento: o todo que se divide nos objetos, movimento q se estabelece entre as partes ou entre os conjuntos e os objetos q se reunem novamente no todo, movimento de expressao (afeccao). Enquadramento e montagem. Relacao entre partes e afeccao/expressao do todo

2. especificação: distinção de imagens, relacionadas ao intervalo, imagem-percepção, afecção, pulsao, acao etc.; imagens deduzidas da imagem-materia pelo cerebro;

enquadramento: movimento que se estabelece entre as partes do conjunto ou de um conjunto a outro; operacao artificial de isolar conjuntos (nenhum conjunto eh absolutamente fechado); o campo, a imagem vista, se liga ao extra-campo, o nao visto; acrescenta-se espaco ao espaco ou se introduz o transespacial e o espiritual no sistema q nunca eh perfeitamente fechado

montagem: movimento que impede qualquer conjunto de se fechar em si mesmo, face q expressa o Todo, o Aberto; compoe as imagens-movimento num todo, imagem indireta da duracao; o todo escapa a tentativa de reuniao do conjunto e suas partes.

cinema da imagem-movimento: montagem compõe movimentos, ocupa-se do todo da duração, da mudança, do tempo. Montagem relaciona imagens-percepção, imagens-afecção e imagens-ação para compor o todo (mudança da situação inicial para uma nova situação). Montagem tem o papel de conter o tempo, corrigir seus excessos, controlar aberrações do movimento absoluto do filme como matéria signalética, que nao para de modular seus objetos; compoe a imagem sensorio-motora

imagem-movimento = bloco de espaco-tempo; materia e espirito, espaco e tempo sao imanentes; plano do espirito subjugado ao movimento dos corpos e `a mediacao da montagem, uma representacao; pensamento como continuidade; espectador como mero conhecedor de um movimento ou objeto determinado

"uma imagem nunca está só; o que conta é a relacao entre imagens" Deleuze, 1992, p.69

na imagem-tempo, imagem-lembranca, imagem-cristal: imagem virtual, mental, espelho, ponto de indistinção entre o real e o imaginario, o atual e o virtual; apresenta o tempo diretamente, caracteristica objetiva e dupla da imagem; o afeto como exterioridade absoluta; a realidade mesma do Tempo; imagens-hibridas, livres da ligacao sensorio-motora, materia signaletica viva; pensamento como ruptura; espectador passa a ser um criador num movimento indeterminado


montagem = mostragem


para Deleuze certas imagens sao objetivamente duplas por natureza: o real e o imaginario, o passado e o presente, o atual e o virtual sao indiscerniveis e isso estah fora da subjetividade; o espiritual como potencia da materia, como incorporal na superficie dos acontecimentos corporais

"o sentido como o passado da linguagem é a forma de sua preexistência, aquilo em que nos instalamos já de início para compreender as imagens de frases, para distinguirmos as imagens de palavras e ate de fonemas que ouvimos" (Deleuze, Cinema II, a Imagem-tempo, p. 123)

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