Tive oportunidade de conhecer gente de todos os continentes viajando pelas Américas, Europa e África e é unânime o sentimento de que o Brasil é um dos melhores lugares pra se viver, de que nossa cultura é uma cultura prazerosa, de que somos ricos em recursos naturais e culturais, de que somos uma das nações líderes do século XXI.
Sair do país é um valor que nosso estilo de colonização e nossas elites construíram e com o qual a maioria da população do Brasil se identifica. Isso é muito bom: quanto maior o contato com a alteridade, maior a reorganização e redimensionamento da nossa subjetividade.
Bem, valorizar o exterior em detrimento do interior vem de longa data e nos constituiu a mentalidade de colonizado. Africano veio trazido na marra, e morria de banzo. Português vinha degredado, ou pra fazer um dinheirinho e ir gastar a grana na Coroa. Se não, mandava o filho pra estudar Direito ou Medicina. Quantos será que voltavam "dotô" metido à besta e botando defeito em tudo? Esse carma se renova sempre com a elite dirigente do país, com os emergentes, com os filhos da classe média que vão ser garçon e estudar inglês ou francês no "primeiro mundo".
Quando se viaja pelo litoral brasileiro, se percebe que o sonho de Cinderela de rapazes e moças na maioria das cidades afetadas pelo turismo internacional é esse: o príncipe ou a princesa encantada, de preferência branco e de olhos azuis, mas sobretudo falando outra língua, salvará o donzelo ou a donzela de sua sina no "paisinho de merda" e @ transportará para seu reinado.
Todos nós reproduzimos o discurso de que "isso só acontece no Brasil". O pior lugar do planeta é o Brasil.
A corrupção, a falta de respeito às leis, a violência, o jeitinho, a falta de educação, a falta de civilidade e polidez, a impunidade, a esculhambação, a falta de pontualidade, o semi-analfabeto que chega à presidência, o Big Brother e todos os dados estatísticos que nos comparam aos Estados Unidos, à França e à Inglaterra, provam nossa mediocridade. Intelectuais, artistas e mídia reforçam o discurso do colonizador: o outro é melhor e é superior a nós.
Esse texto não foge à regra: como somos medíocres na nossa mentalidade de colonizado!
Eu não gosto da falta de educação no trânsito e nas relações em Manaus, não gosto de gente "espaçosa", não gosto do "carão" e da arrogância paulistana, não gosto da atitude blasé brasiliense, me irrita gente falando exageradamente alto, me irrita o despreparo na prestação de serviço, abomino a mentalidade de funcionário público, mas quem disse que essas coisas são exclusividade brasileira? quem disse que eu não reproduzo e não sou constituído assim também?
Eu não gosto que furem fila, - e aqui na Califórnia, onde tem gente de todos os lugares no planeta, isso é uma mania. Falar alto, então! e a prestação de serviços em LOS AN-GE-LES?! Me irrita quem suja os espaços públicos e fico pensando se o mesmo sujeito come alguma coisa dentro de casa e também joga o lixo em qualquer lugar. Não, isso é uma reprodução desse discurso de que o que é da coletividade não é de ninguém. Que essa terra não é a nossa terra. Que essa sociedade é infelizmente a minha sociedade. E fodam-se os outros!...
Se auto-criticar, fazer piadinhas, rir de si mesmo é uma atitude muito madura, mas não se for pra continuar sendo indulgente com aquilo que nós podemos melhorar. Bastaria uma vontade política de todo e qualquer brasileiro. Bastaria a gente sinalizar praqueles que ainda reproduzem essa mentalidade, que há outra possibilidade de ser uma sociedade adulta, já que agora, somos "um país de primeiro mundo".
Tá na hora de a gente assumir, como nação adulta, que temos defeitos e qualidades. E que a gente precisa se amar. Que a gente precisa ter algum nacionalismo que vá além de querer provar nossa superioridade ganhando copa do mundo, única ocasião em que a nação veste sua camisa e sua bandeira.
foto feita por Omar Perez-Then
Esse nacionalismo não quer dizer que a gente vá se cegar e ignorar nossas mazelas, mas significa querer o melhor pra nossa coletividade, sem nos conformarmos. Fazer o melhor que a gente pode, dentro das condições que a gente tem, buscando entretanto superá-las. Mas também significa que a contradição nos constitui. E a gente precisa ser adulto pra perceber isso, sem sucumbir à imobilidade, à indiferença e à apatia.
Concordo em número, gênero e grau. Não podemos nos fazer de "desentendidos" e falar que "porra" o Lula tá se metendo na confusão lá do Irã! Essa é uma aldeia global aonde nascemos e morreremos todos juntos quer vc queira ou não! Imagina que se nos fizermos de rogados e não fizermos uma pressão lá em nossos vizinhos no Pará, do que vai adiantar arrotar que protegemos 98% de nossa reserva florestal sem pensar no TODO! Essas coisas da falta de educação é muito séria e não nos toca somente como bem mencionado no texto!!!
ResponderEliminarSOS Amazonas! SOS Brasil!
ResponderEliminarAos membros do Blog do LUCA MARTINS,
Eu sou Romeu Bezerra, de Manaus-AM. Estou atualmente residindo na cidade "maravilhosa" de São Sebastião do Rio de Janeiro e lhes digo que quando aqui aportei fiquei muito triste por ver tanta crueldade com as pessoas mais humuldes em suas mais variadas necessidades, principalmente no que tange a sua saúde e higiene. Agora entendo por que tiveram que criar no âmbito do Executivo Municipal, o que aqui chamam CHOQUE DE ORDEM. Infelizmente as melhores das medidas não estão sendo tomadas. Seria o que considero CHOQUE DE EDUCAÇÃO. Como Historiador e pesquisador nas áreas de Relações Internacionais e História Militar, penso que precisamos buscar soluções advindas, como fora com o projeto FICHA LIMPA, da sociedade civil organizada e dos organismos em defesa dos Direitos Humanos, Consumidor etc. Chega de Dossiês pra lá e pra cá, no melhor dos dedos-duros...
uau...é isso ai...se todos os brasileiros vissem e se conscientizassem seria uma revolucao no mundo brasileiro...e com certeza nao teríamos tantos desprazeres que presenciamos por aqui...
ResponderEliminarDO cacete, Luca. Assino embaixo... complexo de vira-lata é foda!
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