sábado, 2 de novembro de 2013

entre o sentido e o significante

as mesquinharias passam. Os traços ficam. Não nasci pra ser alegre, pra me esconder num faz de conta de que não vi, não senti. Tento por vezes querer ser saudável. Ver o bem, ver o mal, ver a Vida e lidar com o que custa. Ver o bem, ser grato, e cambalear sem saber ainda como me comportar diante da maldade humana, diante da minha maldade, do meu apego à morte, do desejo destrutivo que se mascara de bem... da acidez exagerada que destrói.

Vejo o mal.

Livra-me do mal, ó Tu que És. Tu com quem ninguém se compara, Tu que sabes que todo pensamento e empalavreamento sobre Ti já está contorcente, distorcente e decomponente...

Todo invólucro significante que tenta Te apreender é mortal. Ídolo. Corpo que não suporta o que em Si quer caber. Prender. E apesar dessa frágil e prepotente tentativa, Tu te fazes encarnar-se, sujeitar-se, enamorando-nos pelo Eterno nesse fugaz então.

domingo, 3 de março de 2013

Sobre consenso e a "questão" da cultura: São Paulo e Manaus

Vi esse post  do Coletivo PassaPalavra sobre os embates paulistanos na política cultural e resolvi publicizar meu ponto de vista:

Em que pese pontos interessantíssimos de crítica e auto-crítica, e um excelente serviço para o debate sobre esse dialogar, por que tal post me pareceu em grande parte uma dor de cotovelo com o Fora do Eixo?

Acho divertido esse discurso de esquerda radical: “fazem uso da produção simbólica alheia para barganhar com governos e empresas financiadoras o mapeamento, a articulação e a mobilização de grupos e pessoas”. Por que alheia? Há outros modos de se fazer política pra quem viveu e vive a tal segregação.

Usando o mesmo argumento generalizante e desconhecedor de trajetórias, garotos de classe média, dos seus palacetes uspianos ou unicampianos, paladinos de movimentos sociais, criticam gente que surgiu dos guetos e anda fazendo o que pode pra manisfestar sua expressão cultural.

Se eles podem se apropriar de certa leitura de Marx, e desses tais movimentos sociais como se fossem seus, por que outros que estão dentro e fora deles não podem?

Não acredito nesse povo que fica de fora sem fazer nada, ou se aproveitando vampirescamente dos outros também, sem ter coragem de assumir isso sequer pra si mesmos, tacando pedra em quem está dando o sangue pra fazer alguma mudança acontecer. Quer canais de diálogos sem precisar se esforçar pra dialogar? Sem ter que lidar com sua própria inveja e inativismo? Tentando ficar nos números, discutir e ocupar 0,05% é melhor do que ficar no 0,00…

Já vivi o bastante pra ter certeza que certos discursos só querem substituir o imperialismo que criticam pelo seu próprio imperialismo; só querem substituir uma “engenharia de controle social” por outra. Isso está muito bem estabelecido na história de partidos e grupos radicais de esquerda...

Elite de “bem-esclarecidos” que na hora de comer o bolo, querem mais o seu e que os outros se fodam, manipulando outros servis e colonizados. Que assumam isso publicamente também. Que reconheçam suas próprias contradições e equívocos para os outros!

A mudança só se faz, fazendo. Não vamos esperar a revolução acontecer, pra participarmos da mudança em e com nossas próprias contradições, acertando e errando, mas fazendo e pensando no processo mesmo de fazer e pensar.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Logos de Deus, Jesus Cristo

No princípio era o Logos, a Fala/Palavra, o Pensamento/Idéia, a Realidade/Ser. No princípio era a palavra racional do conhecimento do real, era o discurso (o argumento, a prova), o pensamento (o raciocínio, a demonstração), a realidade (os nexos e as ligações, universais e necessários, entre os seres). No princípio era a Narrativa, era o Diálogo, era a Intenção e a Interação.

No princípio era a Palavra-Pensamento compartilhável. No princípio era a Linguagem-Discurso, o Pensamento-Conhecimento. No princípio era o Logos, O que obedece às regras e as quebra, O que estabelece as normas e as rompe. No princípio era a Mudança e a Contradição. O Ser-Pensamento e Linguagem verdadeiros. No princípio era a identidade do Ser Imutável, O que move e congrega o pensamento e a fala. 

No princípio era a Consciência, era a Racionalidade. No princípio era O que é inapreensível e se deixa apreender para se mostrar inapreensível. No princípio era a Razão, a capacidade de racionalização individual. No princípio era o princípio cósmico da Ordem e da Beleza. No princípio era a Arte. No princípio era o Corpo Significante que carrega e incorpora o Inapreensível. No princípio era a Energia cheia de significado e propósito, que conecta a todas as coisas. No princípio era o Motivo de todas as coisas, a Causa de tudo.  No princípio era O que produz sentido. 

"... E o  Logos se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, (...) cheio de graça e de verdade"...


"No princípio era o Logos, e o Logos está com o Eterno, e o Logos é o Eterno" (εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος). "(...) Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. (...) E o  Logos se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, (...) cheio de graça e de verdade", João 1:1-14

"‘Pois nEle vivemos, nos movemos e existimos’", Atos 17:28

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Onde estava Deus? (Ainda sobre a tragédia na boate de Santa Maria)

 Vou escrever como se tivéssemos 6 anos: se eu te disser pra não comer determinadas pimentas, pois ardem muito e isso vai te fazer mal, e tu insistires e comeres, tu não podes me culpar. 

Não acredito num deus paternalista. 

Quem matou os jovens não foi Deus ou o diabo. Foi o vampirismo de empresários (especialmente daqueles que dizem professar a crença em Deus, mas agem como se Ele fosse cego, surdo, mudo e aleijado). 
Todos somos avisados como devemos tratar uns aos outros. Não que eu possa dizer que tudo entendo (é muita pretensão humana querer impor sua compreensão racionalista e positivista de uns 300 anos, sobre todas as culturas e sociedades que já viveram ou vivem nesse planeta), mas meu pobre conceito de Deus é de que Ele é a Vida e o Amor, essa Inteligência misteriosa, discreta e ingovernável, que na maioria das vezes deixa espaço para o outro viver como quer e como pode.

Eu não culpo a Vida por ser quem Ela é. Eu não culpo o Amor por ser quem Ele é. Mas culpo sim o modo como se tenta administrar e manipular a Vida e o Amor. Quem controla a religião, quem controla a ciência, quem controla a sociedade e quem tenta controlar o outro (portanto, todos somos culpados disso também), têm responsabilidade nisso.  

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

E como nos libertarmos do Eurocentrismo?

A partir da leitura desse texto sobre o eurocentrismo de pesquisadores, a Daniela Moraes engendrou comigo uma discussão sobre como conseguiremos pensar a América Latina pela América Latina. Se estamos definitivamente sob o jugo de um pensamento letrado eurocêntrico; de que forma pensarmos sem a letra e a voz dos nossos colonizadores; como produzir conhecimento sem os esquemas e predeterminações do pensamento europeu.

E, enquadrado nesse pensamento, concordo que um texto sempre nasce de outro, uma ideia de outra, um discurso de outro. Somos para sempre constituídos pelo Outro, como nos diz São Lacan. Resta-nos vivenciar o nosso específico Édipo linguageiro: organizar a tradição dada pelo pai e pela mãe, pela natureza, pela conjuntura, pela história e pela cultura, pelo que nos diz sim e pelo que nos diz não, fundindo-nos em um e transformando em significante o outro, assumindo-nos como periferia, como colonizados, mediados e atravessados com uma tradição outra que eles não têm e aprendendo com eles no que erraram e acertaram. Eles não são puros, já que a cultura grega, judia e árabe também os atravessa. Mas diferentes de nós, eles se orgulham de e amam o que são e sabem lidar bem com suas mazelas e suas capacidades.. nosso trabalho educativo é esse, assim penso.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Resposta aos "jornalistinhas" Carlos Alberto Sardenberg e Ilona Becskehazy



Ouvi essa "matéria" no site da CBN sobre a greve dos professores de universidades federais http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/missao-aluno/2012/06/18/UNIVERSIDADES-FEDERAIS-BRASILEIRAS-PRECISAM-SE-REINVENTAR-PARA-MANTER-QUALIDADE.htm e fiquei indignado. 

https://www.facebook.com/CASardenberg?ref=ts APAGOU meu post da página dele, mas aí vai: 

dá vergonha de uma pessoa que se diz jornalista ser tão "mal informado" (será?) e prestar tamanho desserviço à educação brasileira.

Em vez de mentir e distorcer os fatos, chamem um professor de uma universidade federal pra falar sobre a greve e seus motivos; sobre avaliação interna das universidades e modelo de gestão que precisamos. 


Vejam o site do ANDES e tentem encontrar o que ela diz, pra quem quer ter uma versão não tão distorcida dos fatos http://www.andes.org.br:8080/andes/print-principais-noticias.andes?id=52


Mas isso é exigir muito desse jornalismo pífio que vocês fazem, né? 


O MEC está conseguindo aos poucos implantar a velha política que o Banco Mundial e o FMI querem nas universidades brasileiras, e o atual ministro da Educação sabe disso, porque um dia ele escreveu esse texto: "A greve, o feijao e o sonho". 


Pra sua informação, quando eu fiz concurso público pra uma universidade federal, fui avaliado em meu currículo, numa prova escrita e numa prova didática. 


Pra fazer mestrado e doutorado, fui avaliado, nas duas vezes, pelo currículo, por uma prova escrita, por uma entrevista, por inúmeros artigos escritos, pela escrita e defesa de uma dissertação e de uma tese diante de uma banca de vários doutores. 


A cada dois anos, se eu quiser pedir promoção, sou avaliado por vários colegas pela minha produção no ensino, na pesquisa e na extensão. 


A cada dois anos, a CAPES avalia os cursos em que dou aula e classifica-os exigindo um critério de produtividade industrial sem que dê condições dignas mínimas de trabalho para atendermos esses critérios. Temos que trabalhar em média 60h semanais para darmos conta de critérios absurdos, que não levam 
em conta vários trabalhos que desenvolvemos. 


Todo semestre, meus alunos de cada turma preenchem formulários avaliando meu trabalho. Que profissional é avaliado assim? Precisamos sim ser estimulados a produzir mais conhecimento e mais arte, mas são os professores e a sociedade que devem definir dentro das condições oferecidas quais os critérios justos para avaliar isso, com um salário correspondente a essa capacidade. 


Mas tocar nesse assunto e ouvir as partes envolvidas daria trabalho demais pra tais "jornalistinhas"...  


Sabe o que falta avaliar de verdade? a IN-capacidade de jornalistas como vocês de prestar um serviço sério para essa nação.


[Quem quiser fazer o favor de informar os dois desinformados, mande mensagem pra eles. Eis o contato:
https://www.facebook.com/ilona.becskehazy.5 
https://www.facebook.com/CASardenberg?ref=ts ]

terça-feira, 22 de maio de 2012

AN OPEN LETTER TO SOCIETY
After seven years, we are back on strike!


Degrees at the federal universities are pursued for the students who want free, public, and high-quality education, research and extension programs. In order to provide this, it is necessary that universities offer top-quality infrastructure, which includes classrooms with the optimal number of students, well-selected and prepared professors, up-to-date libraries and labs, decent dining services, dormitory for out-of-town students, access to the Internet, research and extension groups and enough offer of undergraduate and graduate courses. 

The Brazilian Government has bragged about the increase in the number of graduate students in federal schools. What the Government does not tell you, however, is that many students do not have classes due to the insufficient number of professors. When they eventually do, they have to cram into crowded classrooms, not getting the required attention by overloaded professors. This situation has taken many of these professors to retirement. The Government does not tell you that many students have no classes up to mid-term period or even during the whole term, a situation that forces them to reschedule their lives. Instead of opening for tenured professors, the Government hires temporary staff and overloads them with classes in different institutes. Libraries are lacking books, labs are lacking maintenance, there are no decent places for the professors to work: that is the sheer truth. 


Last year, the Government settled an agreement with the national syndicate, ANDES. It was promised then that the many payment add-ons that are not part of the salary would be summed up and made part of it. Also, it was settled a raise index of 4%, the assignment of a commission to study the career, and some improvements in the working conditions. But the Government did not honor the promise. Part of what had been settled was put into a Presidential Law with no real benefit for the professors.

Professors, students and the Brazilian society have been continuously deceived. Not by the strike, into which we, professors, have been forced to go. But by the lack of dialogue from the Government. Our resistance has been keeping the public university functional. Otherwise, it would have already been slaved by the agenda of the powerful financial groups. We want:
• a consolidated career plan, with all the payment add-on put together into the salary;
• a minimal wage level referred by the DIEESE reference salary;
• fair working conditions.

How much do the social and the technological improvements that a good university produces for a country cost? They are invaluable. Improving education necessarily involves investment on it. Only compromised professors can guarantee the best professionals for a country and its development. The Government humiliates the professors at federal universities with salaries it pays now and with the poor working conditions it provides. It underqualifies our work for the Brazilian society.

As the last resource, the strike is a legitimate instrument to pressure the Government in a necessary and fair struggle. We want to keep up the hard work of graduating excellent professionals, of producing knowledge and technology, and of responding to the social demands. Brazilian universities should be treated taking into account the importance they do have. 



Our rights belong in the paper. Our gains belong in our hands.

Local Committee for the Strike at Federal University of Amazonas, Brazil  (translation by @sergiofreire)

sexta-feira, 18 de maio de 2012


CARTA ABERTA À SOCIEDADE AMAZONENSE

Depois de sete anos, voltamos à greve!


As universidades federais são conhecidas e disputadas por estudantes que querem uma formação pública, gratuita e de alta qualidade no ensino, na pesquisa e em atividades de serviço à sociedade (o que chamamos de extensão). 


Para garantir a qualidade da educação superior pública, é necessário que o espaço universitário ofereça uma boa infra-estrutura: salas de aula com quantidade adequada de alunos, professores bem selecionados, laboratórios e bibliotecas atualizados, refeitórios decentes, moradia para estudantes de outras cidades, acesso à internet, núcleos de pesquisa e atividades de extensão, aumento de vagas nos cursos de graduação, e mais cursos de mestrado e doutorado. 


O Governo Federal alardeia o aumento do número de alunos, mas não diz que estes ficam sem aulas por falta de professores ou em salas lotadas, sem atendimento adequado, sobrecarregando os poucos professores, provocando doenças e aposentadorias precoces. O Governo não diz que há turmas que passam metade do semestre sem professor - quando não perdem o semestre inteiro, sendo obrigadas a fazer cursos de férias. Não diz que contrata professores temporários também sobrecarregados de atividades, que se desdobram dando aula em várias outras localidades. Não diz que as bibliotecas estão defasadas, que os laboratórios estão se deteriorando, que muitos professores não têm lugar adequado de trabalho. 


Como se isso não bastasse, ano passado, esse mesmo Governo firmou um acordo emergencial com o ANDES, o sindicato dos professores das universidades. Tínhamos a garantia da incorporação de gratificações ao nosso vencimento básico, de um aumento de 4% e da criação de um Grupo de Trabalho para discutir a reestruturação da nossa carreira e de medidas para a melhoria das condições de trabalho. Mas o Governo vem trapaceando. Sua última manobra foi transformar uma parte do acordo em medida provisória sem nenhum ganho real para os professores. 


Nessas condições, nós, professores, os estudantes e a sociedade brasileira inteira estamos sendo CONTINUAMENTE prejudicados e enganados. A causa real desses prejuízos não é a greve que nós, professores das universidades públicas do Brasil inteiro, estamos fazendo por tempo indeterminado, até o governo negociar a sério conosco.  Estamos reivindicando: 

  • carreira única com incorporação das gratificações ao vencimento básico;
  • valorização do piso salarial dos professores a partir do salário do DIEESE;
  • condições dignas de trabalho;
Quanto custa o avanço tecnológico e social que uma boa universidade pode produzir para um país? Esse valor é inestimável. A melhoria da educação, da atuação de qualquer bom profissional e da vida da sociedade brasileira passa por esse investimento. Somente professores dedicados a uma carreira de longa duração, com pesquisas e serviços à sociedade, podem assegurar a formação dos melhores profissionais para o desenvolvimento do Brasil.

O Governo humilha os professores das universidades federais com as condições e com as remunerações oferecidas, e desqualifica a importância do nosso trabalho para a sociedade brasileira. 


A Greve, nosso último recurso, é um instrumento legítimo de reinvindicação e pressão em prol de uma luta justa e necessária. Queremos continuar formando bons profissionais, produzindo conhecimento e tecnologia, e atendendo às demandas sociais, em condições dignas de trabalho. Que a universidade brasileira seja tão grande quanto ela deve ser.

Nossos direitos cabem no papel. Em nossas mãos cabe a conquista.


COMANDO LOCAL DE GREVE DA UFAm

quarta-feira, 16 de maio de 2012


Por que mais uma greve nas universidades federais?
“Por que você que procura uma Universidade Pública?

Porque quer a melhor formação profissional. Porque as Universidades Públicas têm sido sinônimo de qualidade de ensino e pesquisa. Porque quer ter aulas com os melhores professores(as), que podem orientar os (as) estudantes. Porque quer viver em um espaço universitário com boas bibliotecas, restaurante, moradia, laboratórios, núcleos de pesquisa e atividades de extensão.

Esta Universidade, em que você quer tanto entrar, está em perigo!

Por quê?

Houve um grande aumento do número de alunos que entraram nas Universidades, mas não houve aumento nas proporções necessárias de professores e funcionários , nem tampouco do espaço físico. Consequência: filas enormes para o almoço no refeitório, salas lotadas, falta de laboratórios adequados, falta de alojamentos para os/as estudantes, falta de infraestrutura para alguns cursos.

Os(as) professores(as) estão sobrecarregados com muitas salas de aula, projetos de pesquisa e atendimento aos estudantes, porque não houve abertura suficiente de concurso e faltam professores. Consequência: estudantes de pós-graduação estão dando aulas na graduação porque faltam professores e os que existem estão se desdobrando em inúmeras atividades.

Em meio a tantas carreiras do serviço público federal, os(as) professores(as) são aqueles que recebem o quinto pior salário pago pelo governo. E este salário é pago àqueles(as) que têm doutorado e trabalham 40 horas semanais. Consequência: profissionais que não se dedicam à Universidade e têm que trabalhar em outros locais.

O que ainda diferencia a universidade pública das faculdades particulares pagas é que nas universidades públicas há qualidade de ensino, porque há espaço para a pesquisa e os professores estão envolvidos integralmente no desenvolvimento dos cursos, pois se dedicam a uma carreira de longa duração.

Para defender a Universidade Pública de Qualidade e assegurar que os melhores professores fiquem aqui para formar os melhores profissionais é que estamos em greve a partir de 17 de maio.

Contamos com a sua compreensão, apoio e solidariedade. Educação de qualidade: uma causa que é de todos nós!"
(carta da ASPUV à Comunidade)
‎"...os docentes em Greve atualmente reivindicam a unificação da carreira e incorporação das gratificações em 13 níveis remuneratórios, com variação de 5% entre níveis a partir do piso salarial de R$ 2.329,35 para o professor graduado em regime de 20 horas (nível 1), assim como percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho. 
Atualmente o salário base de um professor graduado 20 horas é de R$ 557,51. A reestruturação da carreira com o salário base de R$ 2.329,35 para o nível 1 (professor graduado em regime de 20 horas) teria um impacto remuneratório em todos os outros níveis, criando um efeito significativo em termos de ganhos reais para toda categoria. Ano passado, o Governo apresentou uma proposta de acordo emergencial de carreira que garantia a incorporação das GEMAS ao vencimento básico, o aumento de 4% e a criação de um GT para discutir a reestruturação da carreira. 
O ANDES assinou o acordo, confiando de que este ano teríamos uma proposta de carreira aceitável para categoria. Foi então que, para a surpresa de todos, o acordo, com o famigerado aumento estupendo de 4%, foi transformado em Projeto de Lei e de emergencial passou a ser utilizado como instrumento de manobra para ir cozinhando a categoria em banho Maria. Agora, depois de muita enrolação, o acordo foi finalmente transformado em Medida Provisória, mas sem nenhuma sinalização de que algo mais substantivo será feito pelos professores das universidades federais. 
Nenhuma nova proposta até o momento foi apresentada pelo Governo e a deflagração da Greve se dá em um cenário de insatisfação crescente dos professores das universidades federais em relação a sua remuneração frente a importância do seu trabalho para a sociedade brasileira. 
É importante destacar que, embora isso pareça ter sido esquecido por certos segmentos outrora combativos, a Greve é um instrumento legítimo de reinvindicação e pressão em prol de uma luta justa e necessária para que possamos criar as condições ideais para que a universidade brasileira seja tão grande quanto ela deve ser"
texto de Luiz Paiva, professor da UFAm, https://www.facebook.com/luiz.paiva.9/posts/3459908091533


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A César o que é de César?

Se a igreja brasileira se dirigisse a Jesus e perguntasse: "Jesus, você permite que gays se casem e adotem crianças?"

O que você acha que Jesus responderia?

domingo, 9 de outubro de 2011

entre a vida e a morte, dança com Tânatos sendo Eros

Vejo Queremos tanto viver, não sabemos gozar. queremos morrer. Os humanos ao nascerem e conviverem, se desejam, se entrelaçam nessa avalanche.  Na valsa com um, encontro outro. 
 
Em mim eu soube que a morte me aguardava. Mas não quero fazer pensável essa mata. Me custa percorrer suas trilhas. Me esquivo. Num baile, na correnteza de uma valsa, as máscaras me confundem, danço com a morte e com a vida alternadamente. E a morte se faz vida. E a vida, quando estou certo, é a morte. Nos bastidores me observa a ressurreição, deselegante, me pede pra pedi-la na próxima dança. Posso um pouco mais me divertir com a morte e a vida? 
 
Os humanos se entrelaçam em redes. Entre elas eletriza a vida. Meus sentidos, atravessa a morte. E a vida se mina na sanha assassina que assola essas redes. Veja, eu vejo isso noutro espaço. Onde houver dois ou três reunidos, ali dança a vida, dança a morte. Onde houver um só, sopra a vida, tempestade a morte. Há a ressurreição com sua sedução faz querer de novo a vida. Mas não é assim, de onde vem esse cancro que me assalta quando não penso o parceiro da minha valsa? destino trágico, se sei e se fujo te encontro onde certamente te evitaria. 
 
O sentido que sei sua seiva suas veias e seu sangue serpenteia a morte. Eis-me diante de ti, Vida, eis-me te tratando como Quem me pensa, e se penso deveria eu aceitar Tu me pensas. Posso Vida, posso te convidar pra bailar nesse dia? Posso te pedir pra vestir meu olhar? Posso, se te esquecer, cambiar o próximo passo e te fazeres ressurreição? 

domingo, 25 de setembro de 2011

Das possiblidades de um amor eterno.

sai de mim e sê essa alteridade que em mim habitava. Vive no mundo. Meu verbo, faze-te carne. Assume um corpo. Sê um outro eu. Cria movimento, energiza espaço. Faze-te ser sem mim. Estás agora aqui: corpo significante não mais eu. Descola-te e te desloca. Acolhe-te noutro local.


E se eu te amo? e se souberes, tu ainda me queres? tu, sabendo me teres, fugirás de mim? e se já me dás como paisagem conquistada?

Eu quero olhar o teu corpo. Olhar o teu olhar. Acalentar-me com tua voz. Ouvir todas as histórias que te traçaram o ser. A minha sede, a minha fome, o meu desejo de viver repousam no sempre.

E se tu te cansas de mim? Cansaste de mim mistério? Me dás por desvendado. Eu te sigo. Eu te desenho com meu desejo. E se tu te viciaste na novidade? artefatos produtos de novos a usados. Rolam no deslize do abismo as tuas mãos prendem e soltam outros eus.

Ainda hás de querer minha companhia?

E se eu fosse um universo? uma galáxia? um planeta? e se fosses esse a desbravar um mundo sempre novo, a cada dia novo?

Acrescento um punhado nesse mapa em que te traço a cada novo amanhecer. Se eu te amo? E se meu amor perde esse traçado a cada dia. Apaga-o. Refaço-o. Mas te perdes. Uma criança abandona o brinquedo, entediada. Certamente te equivocas ao me equacionares em velhas fórmulas.




eu te amo, mas tu me enquadrilateras nessa rotina. E se eu fosse desconhecido a cada dia pra mim mesmo? e se o tempo e o espaço se dilatassem e confundissem o que tiveste ontem, não sendo mais eu o mesmo que possuíste? Olha pra mim, e me diz se te esvais num só período. Olha pra mim e me diz se te tornas previsivelmente emoldurado.

Se te proteges e te perdoas e te buscas incessantemente, refazendo o teu desejo nesse percurso que se borra a cada passo do presente. Por que não fazes de mim essa viagem incabável?

Não me tens. Não me resolves. Não me possuis. Jamais. E esse mesmo que faz de mim cristais, não é o mesmo que em ti se distrai e se destrói para fazer-se sempre novo? Se me amas, jamais me verás o mesmo verão.

há algum lugar onde se possa descartar o descartável que marioneta esse querer?

Manaus, setembro de 2011.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Qual é o papel da COMVEST: contribuir para o atraso ou para o avanço da educação no Amazonas?

e-mail enviado à Comissão de Exames de Seleção da UFAm (COMVEST), no dia 22 de setembro de 2011, às 2h18min.

prezados senhores da COMVEST,

Sou professor da UFAm, do Departamento de Língua e Literatura Portuguesa. Venho por meio deste, expressar uma preocupação de longa data com o programa de Língua Portuguesa, Redação e Literatura Brasileira da nossa comissão de exames de seleção.

Em 2006 procurei o então presidente da COMVEST para falar sobre a perspectiva um tanto ultrapassada de língua portuguesa, literatura brasileira, de redação e de aprendizagem nos exames de seleção desta conceituada comissão.

A preparação para o ingresso numa Universidade Federal acaba por formatar a grade curricular de escolas e cursinhos. Dada essa importância dos procedimentos adotados pela COMVEST na formatação e definição dos programas e dos planos de cursos implementados nas escolas de educação básica e nos cursinhos, gostaria de ressaltar a responsabilidade dessa comissão para a transformação das estruturas educacionais no nosso Estado no que tange à área de linguagem, códigos e suas tecnologias (que abarca as referidas disciplinas). Se a COMVEST não mudar seus "tópicos para estudo" no Estado do Amazonas, também essa grade não se alterará, como precisamos e queremos. Explico-me...

Já de algum tempo, linguístas, pedagogos, filólogos, psicólogos da aprendizagem, professores e pesquisadores da minha área de atuação, pelo progresso e desenvolvimento científico já alcançados, contribuíram para a mudança no modo como se ensina reflexão linguageira, produção textual e leitura em língua materna e estrangeira.

Em função disso, o Ministério da Educação e o INEP promoveram no país, nos últimos 15 anos, procedimentos substanciais que colocam a educação na área de linguagem, área a que eu me atenho, num patamar dos mais desenvolvidos no planeta. Esses procedimentos estão expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas Orientações Curriculares, na Matriz Curricular do ENEM e do SAEB e, internacionalmente, na matriz curricular do PISA, que vão abaixo anexados para verificação dos senhores.

Esses documentos enfatizam a análise dos "recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de idéias e escolhas)", segundo os PCN de ensino médio. Assim, "o espaço da Língua Portuguesa na escola é garantir o uso ético e estético da linguagem verbal; fazer compreender que pela e na linguagem é possível transformar/reiterar o social, o cultural, o pessoal; aceitar a complexidade humana, o respeito pelas falas, como parte das vozes possíveis e necessárias para o desenvolvimento humano, mesmo que, no jogo comunicativo, haja avanços/retrocessos próprios dos usos da linguagem; enfim, fazer o aluno se compreender como um texto em diálogo constante com outros textos" (ibidem).

É uma perspectiva dialógica, interacionista, argumentativa e discursiva de língua e de linguagem, baseada no texto, e nos usos sociais da língua. Não mais uma ultrapassada, autoritária e conservadora perspectiva de língua divorciada do contexto social vivido. O entendimento da nomenclatura gramatical deixa de ser o eixo principal, em que descrição e norma se confundem na análise de frases, deslocadas de seu uso, de sua função e de um texto.

Mudar essa perspectiva é, dentre outras coisas, contribuir para a formação de estudantes mais críticos, com maior capacidade de domínio dos recursos expressivos e argumentativos da língua e ser coerente com os avanços científicos que promulgamos em nossos cursos de graduação e pós-graduação.

Percebi que já houve uma mudança significativa entre o exame do PSM de 2009 e de 2010. Parabenizo-os por isso. Desejo, entretanto, que essa mudança atinja o programa divulgado pelos senhores no site e finque raízes nas futuras provas dessa comissão.

Grato pela atenção,

Luiz Carlos Martins de Souza
professor do DLLP/ICHL/UFAm e doutorando em Linguística pela UNICAMP

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

é possível ser gay e evangélico? ainda propostas para um diálogo entre um leproso e um sacerdote

ele escreveu:

Já sabemos que quando se parte do pressuposto do qual você parte quando afirma que; "que a Bíblia não é a Palavra de Deus. Só Jesus é a Palavra de Deus" nenhuma vida como discípulo de Cristo é possível....

... se a Bíblia não é Palavra de Deus não percamos tempo com ela, nem com o que ela fala a respeito dos seres humanos ou de Deus...

Se existe outra forma de se relacionar direto com a Jesus sem a intermidação da Palavra do Espírito Santo (Revelada, registrada de forma Inspirada) e o Espirito Santo da Palavra, (que nos ilumina para entendê-la), fora do contexto do Corpo de Cristo que é a Igreja que lê comprometida com a obediência, deixemos a Biblia na prateleira. Agora eu fico surpreso com esta tipo de raciocínio teológico que se baseia na bíblia para suspeitar dela mesmo e que não suspeita de sua propria elaboração teologica. Isso é o mesmo que tentar me persuadir (olhe bem o verbo que estou utilizando) a não usar a minha mente. Então o sujeito que me convencer, usando a mente dele que eu não devo usar a minha! E isso tem cabimento? Estamos deixando de ser pre modernos para ser pos modernos sem nunca termos sido modernos.

caro Ziel,

Parto do pressuposto que toda a escritura é útil para o ensino, para a correção, mas ela não deve estar no lugar que é só de Jesus Cristo. Como terá sido possível a vida cristã de milhares de cristãos antes da imprensa de Gutemberg? e antes de Lutero? A Bíblia é soprada, como nós o somos, imperfeita e incompletamente.

Com todo o respeito e admiração que tenho por vc, tb acho que vc distorceu o meu argumento e não tocou no assunto principal dele ao fazer sua comparação de usar e não usar a mente. Mas seu argumento se aplica exatamente a esse tipo de situação ao se condenar os gays ao limbo da exclusão social, da participação ativa nas igrejas e ao camuflamento: os líderes e donos da interpretação majoritária filtram o que é conivente pra se manter as hipocrisias, e mentiras acalentadas, e usam o que lhes apetece pra excluirem “os estrangeiros”.

Meu ponto é esse: mandam os gays suprimirem sua sexualidade se quiserem "seguir a Cristo", mas não exigem o mesmo de heterossexuais.

O que escrevi no blog e o que defendo é que se vc absolutiza a Bíblia como revelação, absolutize tudo, até a última letra, e absolutize somente nos sentidos literais e exclusivamente nas línguas em que foi escrita, porque toda e qualquer tradução é deturpação.

Não acho incoerente usar a Bíblia pra relativizar a adoração da bíblia... acho incoerente filtrar o que se quer, incoerentemente, e condenar quem em sua incoerência não vive os valores que alguns estabeleceram pra todos.

Nenhuma igreja que impede um gay de viver sua sexualidade, vive os padrões bíblicos mínimos. NENHUMA. Ou que comunidade nesse planeta ama a Deus sobre todas as coisas, com todo entendimento, coração, alma e força, e ao próximo como a si mesma? Nunca vi isso na minha vida!

Sejamos honestos: a começar pela divisão, arrogância e hierarquias que afetam a todos nós e em todos os lugares, é muito mais relação de poder que relação de amor. E nem por isso Deus deixa de nos amar e se revelar às igrejas. Por que deixaria de fazer isso com um gay? Sou gay e sou discípulo de Cristo. Sofri muito com esses posicionamentos fundamentalistas. Quis me matar, me joguei pra morrer, pedi pra morrer, fiz de tudo pra ser “liberto” e “deus” não ouviu minha oração, graças a Deus. Hoje tenho paz diante do meu Deus e nunca mais vou permitir que ALGUEM me impeça de estar inteiro, nu, em verdade, na presença do MEU DEUS. E vou viver o resto da minha vida pra dizer pra pessoas que vivem os mesmos dramas que vivi, que elas podem sim manter uma relação com Cristo saudável e buscarem viver em paz com sua determinação sexual.

Volto a dizer, se a heteressexualidade "não tem conserto nem nunca terá, não tem juízo", porque a homossexualidade teria? se, como diz a bíblia, um heterossexual não pode conter sua heterossexualidade, porque um homossexual conteria? a igreja, diferente de Jesus Cristo qdo aqui estava, não tem moral nem poder pra dizer pra alguém: vai e não peques mais. Pessoalmente, acho que Deus não divide sua glória com gente dividida e que preza mais o poder que o amor.

a literatura universal não é a Palavra de Deus, o cinema não é, a MPB não é, a poesia não é... nem por isso deixam de revelar o Nosso Deus e revelar a condição humana, nem por isso merecem ser descartadas como coisas de, em tuas palavras, "perdas de tempo". Qual é a igreja que lê a Bíblia comprometida com sua obediência? Todas estão comprometidas com o que é conivente. Apontam para o cisco no olho dos de fora, e esquecem a trave no seu próprio olho... A mesma bíblia foi usada para marginalizar e excluir mulheres, negros, índios.

Quando se trata de aceitar a determinação sexual, colocam um fardo sobre os gays que NENHUM pastor ou padre é capaz de carregar.

Deixemos de hipocrisia: em vez de condenar gays a serem infelizes, viciados em culpa, a se casarem e fazerem mulheres infelizes, tratemos com verdade, com saúde, com equilíbrio e com discernimento, acima de falsos moralismos e conivências

Deus é surpreendente, não se amolda às nossas expectativas e trata cada um de nós individualmente, e Ele mesmo relativiza as fôrmas e fórmulas. A vida de Jesus mostrou isso. Que vcs, líderes evangélicos, façam isso tb com aqueles gays que são continuamente torturados dentro das igrejas...meu abraço carinhoso e na expectativa que a Igreja brasileira aprenda a ouvir o clamor dos órfãos, das viúvas e dos leprosos deste século.

domingo, 28 de agosto de 2011

Uma oração ao meu Deus

Senhor Nosso Deus e Pai,

Você tem lido, visto e inspirado nossas conversas aqui. Sobretudo Você tem visto o clamor, a dor, a opressão nesse país. Você tem visto que aqueles que dizem clamar pelo Seu Nome temos sido idólatras. Transformamos as Escrituras em um ídolo pra adorarmos a força, a disciplina, e o auto-sacrifício que podemos fazer e dizer que é pra Você, colocando-nos no centro do processo de santificação, como se ser igual à nossa Majestade Jesus Cristo fosse algo que nós podemos produzir em nós mesmos, sem dependermos continuamente de Você. Adoramos mais às criaturas que Você, Nosso Criador!

Você tem visto que muitos de nós defendemos a justiça, afirmamos nossa luta contra a opressão e ainda assim estamos indiferentes pra buscarmos depender de Você, da força, do poder e do arrependimento com os quais Você pode abençoar essa nação e a Sua Igreja e nos levar a obras dignas de arrependimento;

Perdoa-nos, Pai, nossa indiferença e falta de sensibilidade. Perdoa-nos, Pai, nossa arrogância. Perdoa-nos, Pai, nossa cegueira. Leva-nos ao arrependimento como povo que se chama pelo Seu Nome. Leva-nos ao arrependimento como Nação, como líderes e sacerdotes aos quais Você constituiu pra sermos Sua Manifestação e cuidarmos com Você desse lugar e uns dos outros.

Pai, perdoa-nos porque desmerecemos o clamor, a súplica, e a oração coletiva. Não sabemos orar como convém e não acreditamos que nossas orações podem nos redimensionar diante de Você e dessa conjuntura. Pai, ensina-nos a orar e a usar esse espaço como reunião de sacerdotes que busquem com Você e em Você a resposta pra essas questões sociais: o poder desenfreado do deus mercado, a nossa submissão e adoração a esse deus, ao deus entretenimento, e o culto ao erotismo e ao consumismo; o modo como nos tornamos cínicos, Senhor Deus, em relação à corrupção, à má versação do dinheiro público, ao descaso com crianças, velhos, desempregados, escravos, sub-empregados, sem-terra, sem-tetos, homossexuais, coisificando pessoas e adorando objetos, aparências, status, cargos, relações..

perdoa-nos as hipocrisias e farisaísmos com os quais queremos impressionar uns aos outros; a falta de sinceridade conosco mesmos; perdoa-me essas palavras entremeadas de pretensão, de hipocrisia, de arrogância e também de desejo de que o Senhor nos transforme, nos faça experienciar a Graça e sopre sobre nós consciência do Seu Amor, pra que amados intensamente, possamos amar sacrificialmente; sopre sobre nós prosperidade espiritual e afetiva, nos tornando Um como Você é Pai, com nosso irmão e sumo sacerdote Jesus Cristo. Faz-nos capazes de nos importarmos uns com os outros, capazes de lavarmos os pés uns dos outros, de confrontarmos em amor a mentira que nos enforma, que marioneta essa sociedade...

eu te peço pelo Amazonas, por Manaus, pela UFAm, esses lugares onde Você me colocou: por essa elite política, econômica e intelectual vampira e opressora; pela desesperança, preguiça e comodismo que assola os que podem reagir a isso, pela dificuldade que temos de nos reunirmos, de reivindicarmos, de sermos ouvidos, de clamarmos, de nos organizarmos... Ó Senhor, livra-nos desses e de outros males!

faz isso, Senhor: conduz-nos ao arrependimento. E eu Lhe agradeço, Pai, porque o fato de existirmos, orarmos e desejarmos isso já é bondade e misericórdia Sua para conosco nesse país. Em Nome de Jesus Cristo, eu oro...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

de volta a Manaus

e tentando lidar com a rejeição da realidade, do contexto, da herança cultural indígena desse lugar: a arquitetura inadequada, as roupas inadequadas, os horários inadequados, a relação com o espaço inadequada, a relação com o rio, com as matas, com o calor...

Enquanto a gente tenta ser europeu na linha do Equador, a elite vai vampirizando as energias na cidade. As pessoas se ressentem da subcolonização em que vivem: obrigadas a imitar padrões do hemisfério norte e do sudeste do país, sem questioná-los, lidam com um complexo de inferioridade coletivo, que rejeita o que o contexto e a herança cultural amazônida determina, e rejeita qualquer crítica ao modo como essa elite mercantilista e política faz diariamente de otários os amazonenses. A sabedoria dos povos que milenarmente habitaram e sobreviveram nessa região é triturada em eventos que os tornam apaches de faroeste.

Manaus se tornou a cidade mais cara das Américas, com certeza. E não temos a renda per capita das cidades mais caras nas Américas. Me parece que ninguém consegue reagir ao ser explorado por uma elite sanguessuga, por comerciantes vampiros que cobram preços exorbitantes por serviços pífios, ruins, de baixa qualidade.

Enquanto isso a elite obriga à população a trabalhar em horários insuportáveis: ninguém deveria sair de casa entre 10h da manhã e 15h da tarde em Manaus. O serviço público deveria varar a noite, quando o clima é menos desesperador. Garis, seguranças, policiais, bombeiros, militares, taxistas e muitos outros profissionais são obrigados a vestir roupas inadequadas pro clima da região. Certas casas noturnas barram a entrada de pessoas que se vestem com bermudas e sandálias, por estarem "inadequadamente vestidas" - só se for para frequentarem ambientes parisienses, londrinos e novaiorquinos, cujo clima exige roupas e sapatos fechados...


De fato, construir uma civilização nesse lugar do planeta é um ato de heroísmo. Certamente aqui existe um moinho de sonhos: a sensação que me dá é que muitos desistiram de buscar o bem da coletividade e vão vivendo indiferentes ao que se faz de barbaridade na cidade, no trânsito louco e desregulado, nas relações de prestação de serviço em diferentes esferas.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

de mais uma despedida e o peito rasgado no dia do amigo...

com meus amigos eu faço "poulet aux herbes de provence", "filet mignon au vin", ratatouille, tambaqui na brasa e pirarucu de casaca.

com meus amigos eu viajo pra Buenos Aires, pra Santos, pra Brasília, pra Salvador, pra Los Angeles, pra Paris, pra Londres, pra Maputo, pra Floripa, pra Manaus, pra São Paulo, ou pra Campinas.

Com meus amigos eu exploro o planeta. E me coloco em constante vontade de contemplar esse universo misterioso, sondável, e pra sempre ainda por conhecer, meus amigos são planetas a serem desvendados.

Com meus amigos leio poesia, discuto política, religião, futebol e voleibol. Com eles bebo suco de maçã sem açúcar, Trapiche Malbec, algum espumante ou água sem gás... não gosto de cerveja e meus amigos sabem disso. Não tenho vergonha mais do que gosto e pra ser meu amigo tem que me permitir ser bem-vindo por inteiro.

Com meus amigos como o folheado de cupuaçu da Alemã, massas na Tratoria da Margot, rodízio no Sushimasa da Hadock Lobo - se bem que depois da últimas vez, no arrastão dos trombadinhas e a indiferença do gerente, vai ficar difícil voltar lá - a salada do Café da Rua 8, na 408 Norte; o buffet de comidas da Whole Foods, ou faço despedidas no Tirreno's da Frei Caneca, no Allegro do Amazonas Shopping ou na Haus Bier.

Com os meus amigos eu vou ao cinema. Pra ser meu amigo, tem que ir ao cinema comigo. E tem que rir, chorar, e pensar juntos... se não, ainda não é amigo, não o suficiente, porque meus amigos me acompanham nos bons e nos maus momentos, me vêem rir e chorar, sabem quando eu caio e quando me levanto, e sempre me dão a mão. Me ensinam o que é companheirismo, cumplicidade, reciprocidade, e sinceridade com afeto e, às vezes, com raiva... sentimentos e experiências difíceis de serem vivenciados se nos submetermos ao egoísmo e ao narcisismo que o Mercado exalta. Espero experienciar ser amigo dos meus amigos e de outros tantos que estão chegando. Conhecer, de verdade, alguém leva a vida inteira..

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O que está por trás da hipocrisia da "Marcha para Jesus" e das verdadeiras práticas dos líderes do "cristianismo"?

já sabemos que comer camarão também é abominação;

já sabemos que o desejo da mulher deve ser para o marido dela e ele a governará;

já sabemos que a mulher deve usar véu e ficar calada na igreja;

já sabemos que se um macho heterossexual estiver cheio de tesão (abrasado, pra quem se escandaliza com essa palavra...), deve se casar;

já sabemos que se um homossexual estiver cheio de tesão, deve fazer terapia, descarrego ou auto-mutilação;

já sabemos que um heterossexual casado, se fizer jejum de sexo, tal indivíduo, por não ter domínio próprio, será tentado pelo diabo; (1 Coríntios 7)

já sabemos que se um homossexual fizer jejum de sexo, "deus" o amará ( engano diabólico: o verdadeiro Deus, conforme Jesus Cristo, não precisa de condições para amar. Imagem que se quer à semelhança de Deus que não é Deus. Os que se dizem cristãos adoram isso...)

já sabemos que Deus fez um mundo cuja perfeição seria construída entre os homens e Ele. E que não existe nenhuma possibilidade de co-operar com Deus nisso, enquanto houver divisões: poder sem amor, "amor" sem serviço, gente melhor e gente pior; gente abominação e gente perfeição;

já sabemos que "Toda a lei se resume num só mandamento: 'Ame o seu próximo como a si mesmo'". Já sabemos que só existe UMA MANEIRA de se manifestar publicamente o compromisso com Cristo: "Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros" (João 13:35). Mas continuamos a preferir que nos mordamos e nos devoremos uns aos outros" (Gálatas 5:15, para os bibliólatras).

já sabemos que continuamos a enfatizar muito mais o que nos separa do que o que nos une. Já sabemos que essa superioridade moral hipócrita é farisaica e excludente;

já sabemos da MAIOR abominação de todas: "trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade" e já sabemos o motivo disso: "aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva" (Isaías 1). Mas ninguém vê Marcha para Jesus e cruzada "evangeliquética" (dizer "evangélico" não cabe nisso), contra essa abominação. Ninguém vê uma convocação nacional para jejum, choro e arrependimento sobre essa abominação DENTRO dos palácios dos fundamentalistas.

já sabemos que a questão sexual é um sintoma da grave doença que reina dentro das igrejas daqueles que se dizem cristãos. Já sabemos que a hipocrisia é muito mais bem-vinda que a honestidade e a sinceridade de coração.

já sabemos que não é possível impor a alguém o VERDADEIRO EVANGELHO, a heterossexualidade ou a homossexualidade. E que, qualquer que seja a imposição, só gera hipocrisia, opressão e mais doenças.

por tudo isso, JÁ SABEMOS que os “padrões e princípios estabelecidos pelo Criador”, que a “ordem da criação”, que a “proteção da família”, NÃO É a questão principal que está por trás da resistência aos direitos homoafetivos. Mas tem muita gente fingindo que é. O que será que DE FATO está por trás - ou pela frente - desse discurso moralista hipócrita que sustenta as VERDADEIRAS práticas dos líderes “cristãos” e dos homofóbicos?

já sabemos, - e continuamos fingindo que não -, que a Bíblia não é a Palavra de Deus. Só Jesus é a Palavra de Deus. Nada mais é. Ninguém mais é. Não existe co-ocorrência. Não existe Concorrência. Só Ele é inerrante, infalível e Eterno. Só Ele é norma de fé e conduta. A Bíblia é contextualizável, relativizável, soprada, como os homens o são, por Deus em cada tempo, a cada momento da história dEle com Seu povo. A Bíblia continua a ser escrita, conforme cada tempo, cada cultura e a maturidade da humanidade...Mas não queremos o Sopro de Deus pro agora.

já sabemos que sempre colocamos algo ou alguém no lugar da Palavra de Deus, que é única e exclusivamente Jesus Cristo, para não termos que depender dEle e uns dos outros em amor e serviço. Preferimos absolutizar a revelação passada que nos unirmos para buscar a revelação presente. Já sabemos, a estrutura evangeliquética vive isso, mas preferimos estar certos a amar de verdade e sem hipocrisia, como Deus ama e nos manda amar.

já sabemos que "o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a VERDADE. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". O AMOR suporta a dureza dos corações. O AMOR suporta e ama os casais gays. O AMOR suporta o casamento homossexual. O AMOR suporta qualquer que seja "a abominação". O AMOR SUPORTA A ABOMINAÇÃO que se auto-nomeia “EVANGÉLICA”. O AMOR pode tanto transformar quanto conviver com abominações até que ELE se revele completamente. Aí, nenhuma abominação sobreviverá.

já sabemos que quem MANDA em tudo é Jesus Cristo NO ETERNO. Que somos chamados para cooperarmos com SEU REINO, para amarmos e servirmos a TODOS OS HUMANOS, e que as portas do inferno não prevalecerão. Ou o inferno está prevalecendo ou essa liderança que aí está, de fato está infernizando ao que O SENHOR DEUS santificou, e santificando ao que O SENHOR DEUS abomina!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Jesus Cristo, só Ele é a Palavra de Deus.

Fico intrigado como tem gente que faz da Bíblia, a 4a. pessoa da Trindade... E se complicam porque não dá pra pensar que Jesus está preso num livro. As Escrituras testemunham de Jesus. Mas elas não são a Palavra de Deus. São fragmentos e sombras da Palavra que acabou por se revelar completamente, totalmente aos humanos num tempo, num espaço e num corpo humano.

Jesus é a única norma de fé e conduta. Se a Bíblia fosse essa norma, não haveria paz para o indivíduo e para as sociedades. As Escrituras são contextualizações falhas e equivocadas, de Quem é a Palavra, como os humanos que apreendem a Palavra, são chamados a serem a contextualização falha e equivocável de Jesus Cristo. Ninguém tem toda a revelação dEle. Nenhum tempo teve, nenhum tempo terá. Só quando não houver mais tempo se poderá ter a revelação completa de quem Ele é.

A Palavra de Deus disse e diz. As Escrituras têm que ser repensadas sempre conforme o tempo, o espaço de cada cultura. Por isso os fundamentalistas são tão incoerentes: coam os mosquitos e engolem o boi e sequer se dão conta.

Se os cristãos estivessem mais interessados em viver Jesus Cristo que viver a Bíblia, haveria menos incoerências entre o que Jesus disse como princípio e procedimento pra vida e o que os cristãos vivem, como indivíduos e como igrejas, porque seria Jesus Cristo vivendo a vida de cada um e a vida da igreja, não um bando de gente tentando ser e fazer por conta própria o que ninguém pode ser e fazer sem que o próprio Jesus seja e faça através daquele que dEle depende ininterruptamente. E também parariam de impor o que é impossível de se impor para os outros.

Eis uma sequência de textos das Escrituras que apontam para Jesus Cristo como o Único que é a Palavra de Deus. Sem concorrências. Sem co-ocorrências. Se não houver Jesus Cristo, não há Palavra de Deus. E certamente a Bíblia não é Jesus Cristo, mas algo que colocaram no lugar dEle, um ídolo a mais. Onde se lê nas Escrituras "Palavra de Deus", substitua por Jesus Cristo e jamais por 66 livros, divididos em Antigo e Novo Testamento:

"E disse Deus: Haja luz; e houve luz" (Gênesis 1:3).

"Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho o conhecimento dos conselhos. O temor do SENHOR é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria; eu sou o entendimento; minha é a fortaleza. Por mim reinam os reis e os príncipes decretam justiça. Por mim governam príncipes e nobres; sim, todos os juízes da terra. Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão.
Riquezas e honra estão comigo; assim como os bens duráveis e a justiça. Melhor é o meu fruto do que o ouro, do que o ouro refinado, e os meus ganhos mais do que a prata escolhida.
Faço andar pelo caminho da justiça, no meio das veredas do juízo.
Para que faça herdar bens permanentes aos que me amam, e eu encha os seus tesouros.
O SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras.
Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra.
Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.
Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo.
Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo;
Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo,
Quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra.
Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo; Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens" (Provérbios 8:12-31).

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. (...)E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (João 1:1-5,14).

"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14:6).

O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão"(Marcos 13:31).

"Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus" (Colossenses 1:12-20).