sexta-feira, 12 de agosto de 2011

de volta a Manaus

e tentando lidar com a rejeição da realidade, do contexto, da herança cultural indígena desse lugar: a arquitetura inadequada, as roupas inadequadas, os horários inadequados, a relação com o espaço inadequada, a relação com o rio, com as matas, com o calor...

Enquanto a gente tenta ser europeu na linha do Equador, a elite vai vampirizando as energias na cidade. As pessoas se ressentem da subcolonização em que vivem: obrigadas a imitar padrões do hemisfério norte e do sudeste do país, sem questioná-los, lidam com um complexo de inferioridade coletivo, que rejeita o que o contexto e a herança cultural amazônida determina, e rejeita qualquer crítica ao modo como essa elite mercantilista e política faz diariamente de otários os amazonenses. A sabedoria dos povos que milenarmente habitaram e sobreviveram nessa região é triturada em eventos que os tornam apaches de faroeste.

Manaus se tornou a cidade mais cara das Américas, com certeza. E não temos a renda per capita das cidades mais caras nas Américas. Me parece que ninguém consegue reagir ao ser explorado por uma elite sanguessuga, por comerciantes vampiros que cobram preços exorbitantes por serviços pífios, ruins, de baixa qualidade.

Enquanto isso a elite obriga à população a trabalhar em horários insuportáveis: ninguém deveria sair de casa entre 10h da manhã e 15h da tarde em Manaus. O serviço público deveria varar a noite, quando o clima é menos desesperador. Garis, seguranças, policiais, bombeiros, militares, taxistas e muitos outros profissionais são obrigados a vestir roupas inadequadas pro clima da região. Certas casas noturnas barram a entrada de pessoas que se vestem com bermudas e sandálias, por estarem "inadequadamente vestidas" - só se for para frequentarem ambientes parisienses, londrinos e novaiorquinos, cujo clima exige roupas e sapatos fechados...


De fato, construir uma civilização nesse lugar do planeta é um ato de heroísmo. Certamente aqui existe um moinho de sonhos: a sensação que me dá é que muitos desistiram de buscar o bem da coletividade e vão vivendo indiferentes ao que se faz de barbaridade na cidade, no trânsito louco e desregulado, nas relações de prestação de serviço em diferentes esferas.


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