sexta-feira, 30 de julho de 2010

Por que o Brasil perdeu a Copa do Mundo e por que ganhou o Mundial de volei?

"Energia é igual a desejo e propósito", Sheryl Adams
Quero dar minha contribuição rasteira para uma Psicologia dos Esportes no Brasil. Outro dia escrevi sobre a mentalidade de colonizado nesse blog e ver a participação brasileira nos esportes em relação a outros países, me reforça a idéia de que nosso estilo de colonização e a imagem que nossas elites construíram e constróem sobre quem somos como nação afeta o modo como vivemos a política, os bens culturais, a educação, o desempenho dos nossos heróis hodiernos e o percurso do herói (ou do anti-herói) que cada brasileiro traça em sua jornada.
Valorizamos o Exterior em detrimento do Interior, ridicularizamos nossas instituições o tempo todo, nos desconstruímos sempre, tudo vira piada e auto-indulgência, temos complexo de vira-lata. Nadamos, nadamos e morremos na praia. "Sou brasileiro, não desisto nunca". Discursos que nos constituem  a mentalidade de colonizado. Com efeitos benéficos e maléficos, mais maléficos que benéficos, quando se trata de projetar algumas vitórias nas relações internacionais.

Para ganhar uma copa do mundo, não basta desejar, não basta dominar a técnica, não basta ter um propósito, não basta ter a fé, as orações e a energia de pelo menos 50 milhões de pessoas. É preciso lidar com a rede que se tece nas interações, com a energia da memória, da cultura, dos medos dos indivíduos e das coletividades.

A Copa do mundo deste ano não foi ganha pela melhor seleção do planeta. A melhor seleção ficou em terceiro lugar. A Copa foi disputada pelo espírito vencedor, de duas seleções medíocres, que se formou numa coletividade de jogadores e equipe técnica. A vontade se submete ao inconsciente e à história de indivíduos e sociedades.

Estou convencido de que somos matéria-energia. Como escrevi noutro post, precisamos olhar pras forças produtivas e as relações de produção de determinada formação social em determinadas condições de produção da nossa história e conseguir dar conta de pelo menos boa parte das regras de funcionamento do desejo nesses momentos históricos.

Apesar das relações de produção serem independentes de nossas vontades, existem condições de produção social e individual de resultados na vida que vão além do econômico e que se dão em relação desigual de aliança-subordinação-contradição-e-ou-apagamento com as condições econômicas.
Se você tem um desejo e esse desejo se transforma em propósito e se esse propósito se inscreve dentro de uma ordem e de uma rede sócio-econômica que lhe permita se instituir e se a memória, a história, as lembranças, as feridas são redimensionadas nessa rede, então esse desejo se torna uma energia poderosa. Ser rico fica como subsídio, como uma ordem que facilita a superação dos obstáculos, mas deixa de ser o critério fundamental.
Cuba é um exemplo disso nas Olimpíadas. A extinta URSS também. O sucesso e o fracasso do Brasil e dos países ricos, com seus incontáveis ouros, também.

O Brasil só perde porque o Brasil não conhece o Brasil, porque o Brasil não deseja, não tem tesão pelo Brasil.

Na re-produção da vida, o que energiza? o que combustiona? de que ordem são as "ligas" que contraem, que congregam as forças materiais?  

Espero que o Mano Menezes chame o Bernardinho, seus jogadores, sua equipe técnica e todos os atletas medalhistas do Brasil, com suas redes imediatas, pra conversar e estudar as estratégias para que o Brasil se torne de fato uma potência mundial no futebol, mais do que uma potência exportadora de alguns talentos.

Isso deveria ser feito em todos os níveis em que essa mentalidade de colonizado empaca nosso desenvolvimento e enriquecimento como nação.

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